"Na real, o que desejo é apagar os limites que constituem a minha singularidade inexorável. Essa ilusão doentia de crescer em todas as direções, de vagamente reencontrar-me em tudo aquilo que eu não sou, ou melhor, em tudo aquillo que não sou eu. Eu utilizo a excessiva variedade frouxa, a diversidade complacente em que se tornou a vida nas cidades, para fazer de mim mesmo uma festa de indefinição e provisoriedade. Eu quero “ser e não ser”, e não há questão. Isso é o que eu quero. Acontece que mais do que eu me utilizo da gelatina espatifada que é a vida urbana burguesa, é a decadência que esta significa que se utiliza de mim. Entretanto, sinto-me muito orgulhoso de ostentar minha solidão de cético, entre otimistas ignorantes. Mas essa solidão é uma pose, e esse ceticismo, uma moda. Minha crítica à sociedade moderna é uma crítica moral. E contanto que se preserve o mito da queda, o tom de lamentação e queixa à sombra da árvore da sabedoria, essa crítica se direciona igualmente contra o racionalismo, filho do mercado, e contra o irracionalismo, gerador de novos desafios à razão. O que quero é louvar a ambos em anti-poesia, desde que eles apareçam como uma possibilidade de superar a lementação da queda, reconhecendo alegremente a perda como condição para a liberdade."
Fonte: NAiVE PROJECT
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