sexta-feira, 3 de maio de 2024

SILÊNCIO

Ontem parei pra pensar sobre meu silêncio. Um silêncio aprendido e muito executado. De alguém que tem muito a dizer e escolhe guardar tudo pra si. De como eu aprendi que "sabichões" que "de tudo entendem" e que cortam/corrigem os outros com frequência (muitas vezes por falta de noção e sem essa real intenção) ficam sem amigos pra conversar. 

De como é solitário escolher o silêncio com tanta frequência. Como é dolorido não ter coragem de interagir, de compartilhar. Me acostumei tanto a me calar - pq sentir que as opiniões dos outros "são mais importantes/relevantes que as minhas", pq precisei do silêncio pra direcionar toda minha capacidade a entender o que os outros estão falando E querendo dizer. Pq, por mais que seja um assunto que eu tenho conhecimento e interesse a respeito, sempre acho que há outros que sabem mais e por isso não tem necessidade de eu "me meter" nos assuntos. 

Mas aprender é minha maior notivação na vida. Amo aprender, conhecer, descobrir novos campos de interesse e me aprofundar neles. E tudo isso fica rodando dentro de mim, da minha cabeça que nunca pára. Então, se eu não vou conversar com ninguém sobre as coisas, eu escrevo, desenho ou canto. Levo pra terapia semanal. Precisam ter vazão de alguma maneira pq, se eu tento conter tudo dentro de mim, adoeço. 

Acabo de perceber que eu sinto não ter ninguém com quem eu posso conversar livremente sobre tudo que se passa na minha cabeça. Eu sempre me preocupo que se eu me abrir completamente eu vou sufocar as pessoas com meu excesso de informações, com meus interesses peculiares. Que elas não tem interesse pelas mesmas coisas e vão ficar cansadas, entediadas e querer ir embora. 

Que bom que as palavras escritas existem. 

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Ficar calada me "protege" das confusões da dificuldade de interação social, dos potenciais olhares de reprovação pq não entendi a piada ou discordo do que está sendo dito, mas tb me impede de aprofundar relações. De me conectar com as pessoas. Me previne de fazer verdadeiras amizades que vão existir para além do ambiente de trabalho/estudo/religião. 

Sempre me doí por isso, por conhecer e ser conhecida por todo mundo, falar com todo mundo, mas quando saía dos ambientes estava sempre sozinha. Sempre existiu a barreira da interação estritamente localizada. As outras pessoas visitavam as casas umas das outras, iam para cinemas, parques, festas, etc. juntas e eu nunca conseguia estender minhas relações pra outros ambientes.

Hoje sinto que o silêncio faz parte das minhas máscaras. Daquelas que desenvolvi pra me sentir socialmente aceitável nos ambientes que eu precisava navegar. Pra me sentir minimamente segura e pertencente. Mesmo que, na maior parte do tempo, a sensação de ser uma impostora seja a coisa mais presente de todas. E até pra isso o silêncio serve: pra "me proteger" de demonstrar a fraude que sinto ser - mesmo que eu tenha chegado aonde cheguei de forma justa.

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