sexta-feira, 6 de maio de 2022

Reflexões sobre legado

Ontem, 05/05/2022 foi a Cerimônia de 49º dia de falecimento da minha mãe. E eu escrevi algumas palavras pra ocasião que eu quero deixar registradas aqui:


Vovó Maria e minha mãe, Terezinha.

Boa noite pessoal.

Eu pensei um bocado sobre o que eu falaria na cerimônia hoje, sobre o quê do legado da nossa mãe eu ia querer ressaltar e decidi falar sobre duas coisas que sempre foram muito fortes nela e que me marcam muito todos os dias: sua solidariedade e esperança nas pessoas.

Desde criança eu vi a mãe doando seu tempo, seu afeto, suas coisas para apoiar quem estivesse precisando. Aprendemos no Budismo Nichiren Daishonin que não se tem verdadeira felicidade sozinho. Que construímos a felicidade quando buscamos ela pra gente e pras pessoas a nossa volta. Eu vi minha mãe realizar isso ao longo de toda a vida dela de diversas formas. Ela não era perfeita, era uma pessoa com qualidades e defeitos, como eu e você, mas sempre buscou fazer o melhor que pudesse. E fico feliz em dizer que grande parte dos objetos dela como roupas, livros e materiais de artesanato foram doados e já estão sendo apoio para diversas pessoas, como ela sempre presou em fazer. Não é questão de agir para ser bonito, “pra ficar bem na fita”, é questão de se importar sinceramente com o bem-estar das pessoas e fazer algo que esteja ao nosso alcance no dia a dia. É se fazer abraço, ouvido atento ou outro tipo de apoio para alguém que esteja precisando, dentro do que seja possível e saudável pra gente no momento.

A outra coisa que eu quero falar é sobre a contínua esperança dela nas pessoas. Na sociedade, no futuro. Vivemos em um momento histórico bastante violento, com muitas demonstrações de falta de respeito e de humanidade por tantas instituições e pessoas. Mas ela nunca deixou de crer no potencial ao bem das pessoas em geral. E ela sempre procurou tratar a todos com respeito e cordialidade por causa disso. Eu aprendi com minha mãe e com o Budismo que se a gente quer que algo mude, precisamos iniciar em nós a mudança. Não importa que todo mundo a nossa volta esteja fazendo as coisas da maneira errada ou ilegal, nós vamos fazer o certo porque sabemos que é o certo – mesmo que mais ninguém faça. Isso pode ser solitário as vezes, mas é o estilo de vida que eu escolhi pra mim também porque eu sei que meu exemplo, como o dela, uma hora vai tocar alguém. E esse alguém vai passar a agir de maneira mais esperançosa e íntegra, tocando uma outra pessoa. E assim por diante. Você que está me ouvindo merece respeito e afeto. As outras pessoas também merecem respeito e afeto. A gente merece um mundo melhor pra nós, pras nossas crianças e pra todas as outras pessoas.

Nutrir esperança é um ato revolucionário, que pode ser difícil de gerenciar na nossa época, mas é uma escolha que pode nos levar a futuros mais felizes.    

Então eu venho te fazer um convite: o que você, hoje, com o que vc tem, pode fazer pra cuidar melhor de você e de alguém a sua volta? A gente merece ser feliz em meio as ondas que a vida nos traz, boas e ruins. Acolher e ser acolhida, chorar quando preciso, sorrir sempre que der. Vamo junto?

Um abraço apertado e quentinho em cada um de vocês e muito obrigada por estarem aqui hoje com a gente.

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Atualização em 09/05/2022
Relendo minha fala passou a me incomodar o trecho "nós vamos fazer o certo porque sabemos que é o certo – mesmo que mais ninguém faça." e quero editar um detalhe: 
nós vamos BUSCAR fazer o certo porque sabemos que é o certo - mesmo que mais ninguém faça
Como seres humanos estamos passíveis a erros, fazemos merda como todo mundo. Mas o desejo de fazer as coisas da melhor maneira possível está lá e é o foco. Relendo, a frase me pareceu bastante presunçosa e eu senti a necessidade de fazer esse ajuste.