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quinta-feira, 7 de abril de 2011

Imaginarium - Nightwish, entrevista com Tuomas


          Com o meu retorno a universidade, estou fazendo a disciplina Projeto Interdisciplinar e tendo que lidar de maneira distanciada e teorizante com o meu próprio trabalho artístico. É um caminho tortuoso de busca da auto-confiança para falar sobre aquilo que te toca, justificando academicamente suas escolhas. Por isso, tenho buscado referências para entender melhor os processos criativos e os desafios que o englobam. 

          O fato é, sou muito fã da banda Nightwish a uns 8 anos e tenho acompanhado, sempre que consigo, os diários e entrevistas sobre o novo projeto duplo deles, Imaginarium (cd e filme). 

          Visitando o site oficial hoje, tive a oportunidade de encontrar esta entrevista com Tuomas Holopainen, tecladista e principal compositor da banda. Ela é bastante interessante pelas informações que contém sobre o projeto e, para mim, especialmente válida pelos comentários sobre a trajetória de desenvolvimento da idéia que o originou.

          É um tanto extensa mas creio que vale a leitura:
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Imaginarium - Entrevistas
23.02.2011


"Tuomas, você é um louco varrido mas a idéia é incrível!"
Tuomas Holopainen revela do que se trata o conceito de Imaginarium

Trancados em estúdio na melhor parte desta primavera, o Nightwish não apenas está dando os toques finais no seu novo disco, Imaginarium, mas também está planejando um filme de mesmo nome. Se tudo correr conforme o esperado, o disco está marcado para ser lançado no início de 2012, seguido pelo filme após um período a ser definido. O primeiro single do novo disco bem como o trailer do filme devem aparecer bem antes do final de 2011.

Para o filme, O Nightwish se juntou com Stober Harju e sua equipe de produção, bem como a Solar Films.

Como você chegou no conceito de Imaginarium?

- Após completar o último álbum, eu me dei conta de que nós não podemos necessariamente ultrapassar Dark Passion Play em termos de grandiosidade e dinâmica. Em algum momento eu tive uma revelação: existe algum motivo pelo qual o Nightwish deva ser apenas uma experiência auditiva? Porque não poderíamos ampliar nossos horizontes? Eu tive a idéia de um disco conceitual, e pensei que nós poderíamos filmar um vídeo para cada música, que se uniriam para compor uma estória. Eu queria criar algo diferente, por exemplo, comparando com os projetos cinematográficos de Pink Floyd, Kiss, Lordi etc.

O projeto começou há dois anos e meio, no início do outuno de 2008.

- Eu havia encontrado o diretor Stobe Harju durante a produção do video de 'The Islander', e sabia que nós tínhamos a mesma maneira de pensar quando se trata de coisas loucas e fantasiosas. Contei a ele sobre minha idéia e ele respondeu imediatamente: "Tuomas, você é um louco varrido, mas a idéia é incrível -- Vamos começar já a pré-produção!"

- Então basicamente eu criei o conceito: Eu tive uma visão de que havíamos gravado 13 vídeos musicais que se uniriam. Então Stobe sugeriu que tivéssemos diálogos também, porém eu havia pensado que apenas música e imagens contariam a estória. Stobe garantiu, porém, que música, imagens e diálogos nos assegurariam os melhores resultados, e agora que vejo o script, eu me dei conta de que ele estava certo. A pré-produção ocorreu maravilhosamente bem, pois todas as minhas idéias principais, como a volta na montanha russa em uma das músicas, fecharam com a estória de Stobe perfeitamente. Basicamente eu dei a Stobe 13 pérolas e ele produziu um colar com essas pérolas.

O script final ainda está sendo escrito, porém o que você pode revelar do enredo por enquanto?

- Um velho compositor no seu leito de morte retorna a sua infância. Antigas memórias voltam lentamente, misturadas com o pequeno mundo de fantasia e música de um garotinho. Este é o conceito geral que podemos revelar no momento. Quero passar uma mensagem positiva e uma sensação de carpe diem. O filme é sobre a alegria de se estar vivo e a beleza do mundo.

O primeiro poster do filme dá uma primeira impressão das imagens do filme. O que mais você pode compartilhar conosco nesse momento?

- Nós estamos visualizando algo como um ponto comum entre os mundos surreais de Tim Burton, Neil Gaiman e Salvador Dali, mas não queremos tornar o filme extremamente artístico. É claro que eu assisti uma grande pilha de referências, e tudo me parece ótimo.

Vocês já fizeram a seleção do elenco? Podemos esperar algum membro da banda no filme?

- Estamos apenas começando a seleção, mas ela será feita principalmente pelo Stobe e pela Solar Films. Pessoalmente, eu gostaria de ver atores desconhecidos. Obviamente seria bom se eles fossem falantes nativos de Inglês, pois inglês não fluente definitivamente não fecha com a proposta do filme.

- O Nightwish aparece basicamente como ele mesmo, e provavelmente seremos vistos tocando duas ou três músicas no filme. Existem algumas partes secundárias e diálogos escritos para nós, mas você certamente não nos verá como protagonistas. O tempo do filme será de aproximadamente 80 minutos, talvez até um pouco mais.

Tem sido desafiador conseguir financiamento para o filme?

- "Desafiador" é uma palavra muito suave. Você tem que lembrar que um filme como este custa bastante. Mas mesmo assim, eu nunca estive disposto a desistir, pois a idéia de lançar apenas um disco de estúdio seria decepcionante. A banda está fortemente envolvida na produção, e, portanto nós estamos correndo um alto risco financeiro nós mesmos. É óbviamente ótimo que nós conseguimos uma grande empresa como a Solar Films como parceira.

- Deixando a conversa sobre o filme de lado, é de fundamental importância lembrar que Imaginarium é também o novo disco do Nightwish, um trabalho musical isolado. O que pode ser interessante para os ouvintes é que a música do disco e do filme terá certa diferença - No filme, algumas introduções são cortadas, alguns refrões não tem voz e assim por diante. No filme, a música obviamente tem que se acomodar a estória.

Que tipo de papel as letras das músicas tem no filme?

- Foi interessante escrever as letras, pois elas tem que funcionar sozinhas sem o filme. É por isso que você não vai ouvir os nomes dos personagens nas letras, por exemplo. Os temas individuais são bastante universais, mas ainda assim fecham um com o outro sem contar uma estória linear. Mas não se preocupe, tudo será esclarecido ao seu tempo.

Como você pretende lançar estas coisas?

- Se tudo correr conforme o planejado queremos lançar o disco no início de 2012, com o filme sendo lançado quando ficar pronto. Será lançado pelo menos em DVD, mas temos esperanças de que ocorra também um lançamento no cinema. E é claro, o filme junto com o disco estarão disponíveis futuramente numa versão especial dupla.

Se Dark Passion Play foi o final de um caminho, que diabos você pode fazer após Imaginarium?

- Acho que teremos que incorporar cheiros e outras sensações....

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Fonte: http://www.nightwish.com/pt/imaginarium/interviews/1 
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terça-feira, 22 de junho de 2010

Irina Ionesco - Entrevista

O que eu posso dizer é que a fotografia certamente mudou minha maneira de enxergar tudo à minha volta. E lendo esta entrevista com uma profissional veterana e de trabalho muito interessante, eu posso ter certeza de que muita água ainda vai rolar em baixo da ponte do meu conhecimento.

Concordo com diversas coisas que ela fala e acho que, independente de vocês concordarem propriamente ou não, vale a imersão nesse universo tão grandioso do pensamento imagético.
Aproveitem!

Entrevista com a fotógrafa Irina Ionesco, via LookMelissa:

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Eva, retratada pela mãe.

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Polêmica fotógrafa fala sobre a diferença entre erotismo e pornografia


Confira entrevista com a francesa Irina Ionesco

Maria Júlia Lledó
 
Criada na Romênia, a francesa Irina Ionesco conta que começou a desenhar desde que um lápis caiu em suas mãos. Fato tão comum durante a infância, mas que transformou o olhar de menina. A partir daquele momento, “poderia capturar as imagens que me subjugavam”, conta.

A pintura, no entanto, foi apenas um pretexto para que a francesa comunicasse sensações, fantasias e desejos femininos pelas lentes da câmera fotográfica. Hoje, aos 75 anos, Irina é respeitada como a grande dama da fotografia erótica. Alvo de polêmica nos anos 1970, após registrar a filha Eva dos 4 aos 13 anos adornada por flores e em poses de ninfa, Irina depõe contra qualquer vulgarização do erotismo.

Em fotos em preto e branco, o cenário que explora é onírico. Uma ode à feminilidade. Tais atributos também inseriram o seu trabalho no universo da moda. Ela já fotografou para revistas europeias, norte-americanas e japonesas. Provida de um olhar sensual e maduro, Irina desvincula-se de padrões estéticos e não se limita à ditadura da beleza jovem.
 
- A sedução pode ir até os 80 anos – afirma.

Recentemente, assinou o editorial Cirque Sinistre da marca de sapatos Melissa na última edição da revista brasileira Plastic Dreams. Para divulgar a exposição Espelhos de luz e sombra, em cartaz na cidade, a fotógrafa deu a seguinte entrevista por e-mail. Nela, ela fala sobre sua relação com a fotografia, a moda e o erotismo.


Como sua história na fotografia começou?
Fiz teatro e dança, atividades a que me dediquei durante 10 anos, até os 28 anos. Quando fui dançarina, era o alvo dos olhares. Depois que sofri um acidente, que me impediu de continuar dançando, fiquei perdida. Não era mais nada, não via nada. Eu estava morta. Foi assim que comecei a querer desenhar, inscrever imagens e olhar os outros. Pintei por sete anos. Gostava, mas era um trabalho muito solitário e eu estava acostumada com a presença do público. A pintura não tolera a presença do outro, mesmo quando se trabalha com modelos. O modelo fica absolutamente mudo e parado durante horas. A comunicação não é possível, pois se se entabula uma conversa, a obra do pintor se esfacela. Essa espécie de religiosidade silenciosa me pesava muito, pois sou uma pessoa espontânea e, de certa forma, exibicionista. A fotografia foi consequência da pintura, que me ensinou tudo: a enquadrar, a olhar.

Por que o erotismo presente em suas fotografias causa tanta celeuma?
O erotismo é a vida. É, por exemplo, uma rosa que se abre. Não é a pornografia. Quando paramos de desejar, não há mais vida. Ele é algo de velado em relação à pornografia. Esta depende de uma exibição, que é muito mais consumível de maneira carnal do que simplesmente mostrada. A pornografia pode ser, por exemplo, uma penetração, coisas vulgares, filmes pornôs. Ela é uma forma de excesso, mas que não tem nada a ver com o erotismo. Um olhar pode ser erótico, bem como uma pontinha da orelha, uma voz, uma certa maneira de pousar a mão sobre a coxa, um perfume, um jeito de mexer o corpo ou fazer surgir o tornozelo. O erotismo é algo misterioso, sem relação com uma cópula, que pode ser vista numa tela de cinema. O amor é algo vivido, pessoal e secreto. Ninguém pode ter acesso à intimidade de uma pessoa. A pornografia faz parte de um comércio execrável. A diferença entre a pornografia e o erotismo é muito sutil, da ordem do inefável.

Por que as fotos da sua filha Eva ainda provocam tanta polêmica, mesmo diante da sua concepção do erotismo na fotografia?
Eva e eu sempre tivemos uma grande cumplicidade. Eu fotografava as mulheres e ela estava lá, por perto. Eva sempre teve o teatro no sangue e acabamos fazendo essas fotos juntas. Nunca expus nenhuma ideia à minha filha. Todas as crianças brincam dessa maneira. Qualquer menininha traz dentro de si toda a feminilidade do mundo. Não se deve pensar que as crianças são bobas ou que vivem num universo em que não percebem nada. Não é possível refazer o trabalho que fiz com Eva com outras garotinhas da mesma idade. Eva é minha filha e tirei essas fotos por amor. Não é por ser minha filha, mas Eva é um personagem que me subjugou. Além de fotógrafa, Eva é atriz, faz teatro, dirige vídeos. Somos uma família de artistas. Atualmente, ela está dirigindo um filme que conta a nossa história. Isabelle Huppert interpreta o meu papel. Continuo a tirar fotos dela, mas são de outro tipo. As fotos que fiz com Eva já entraram na história da arte e estão para além de qualquer juízo crítico.


Qual a relação do seu trabalho com a moda?
Os editoriais de moda que fiz vieram a partir da descoberta do meu trabalho, em que uso elementos da alta-costura, próprios do universo onírico. Fiz o meu primeiro ensaio para a revista francesa Rebel e, a partir daí, vieram os convites de publicações inglesas. As revistas norte-americanas vieram em seguida e acabaram atraindo as japonesas. Fiz para o Japão um lindo trabalho sobre Alice no país das maravilhas. É um ensaio que implica a travessia do espelho, distante da realidade banal e das fotografias convencionais e estereotipadas de moda. Foi a partir de um trabalho meu, publicado na revista inglesa Dazed and Confused, que um representante da Melissa brasileira veio me procurar para participar da revista que eles editam. Agora, começo a preparar um editorial de moda para o Lanvin.


A indústria da moda impõe padrões de beleza. Isso limita o seu trabalho?
Procuro sempre fazer algo atemporal. Para mim, a fotografia é poesia, uma escrita teatral em que eu fixo todas as minhas fantasias de forma obsessiva. Cada sessão de fotos me permite integrar a mulher em um universo de sonho, no qual ela mesma é mítica, múltipla. Adoro a feminilidade exacerbada, todos os elementos que fazem com que a mulher exista. Se a seda, o batom, as peles, o salto alto foram criados, não foi visando os homens. Toda a indústria de sedução baseia-se na mulher. Infelizmente, tudo é concebido para a mulher que tem até 30 anos. É por isso que fotografo mulheres que passaram dos 30 e são extremamente sedutoras. Não há limite para a sedução, que pode ir até os 80 anos. Tudo depende de quem se é, e do que se quer ser.


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