quinta-feira, 16 de maio de 2024

14 e 16/05/2024

Quando eu fico muito tempo dentro de casa eu fujo... Começo a me refugiar nos livros, nos pensamentos, nas infindáveis reflexões que rodam em minha mente.

Custo demais a ficar no presente. Me vejo por fora do meu corpo. Na verdade, mais pra ignoro a existência do meu corpo me atendo aos pensamentos. Todos eles, tantos deles, em todas as direções. 

Tenho inúmeras ótimas ideias e não coloco nenhuma em prática, fico lapidando internamente sem nunca me sentir pronta pra externar. De vez em raramente consigo pôr algo pra fora. Uma música, um desenho, um texto. Mais o último que os outros, porque com o celular na mão já posso executar. 

Mas a música e o desenho parecem pessoais demais, preciosos demais. Preciso de solitude, que quietude, preciso de um empenho que muitas vezes me falta energia pra desempenhar. 

Sinto falta de quando eu me sentia a vontade pra desenhar em locais diversos, perto de outras pessoas. Sinto falta de desenhar mais.

O que me impede? O que me dói? Porque me sinto exposta agora de um jeito que não sentia antes? A maioria das pessoas à minha volta sequer sabe que eu desenho, canto, escrevo e por aí vai.

Essas coisas são tão intrinsecamente eu, porque eu não me permito ser vista através delas?

Pode ser engraçado ler isso, considerando que estou aqui neste blog público colocando essas coisas há uns 15 anos. Mas, na verdade, pouca gente sabe que ele existe. Não divulgo pra ninguém, não falo a respeito. A única referência direta a ele é um link na minha bio do instagram, e só. Talvez algo no meu falecido Deviant'Art também, mas nem tenho certeza. 

Aqui é meu escape. Um espaço seguro pra desaguar um pouco do que não cabe mais dentro de mim mas que não tenho coragem de "alugar" os ouvidos/olhos dos outros pra compartilhar.

Quando estudava Artes Plásticas na UNB eu desenhava todo dia. Estava sempre com um diário gráfico por perto em qualquer lugar, qualquer horário. Era um meio de comunicação meu, de processamento ativo da vida. Esse contato intenso e frequente me faz falta. 

Agora, sinto vergonha de alguém "me pegar" tentando desenhar. Me sinto exposta e com dificuldade de explicar o que estou fazendo. Porque nem eu mesma sei bem o que tô fazendo hoje em dia quando tento desenhar. Antes as coisas fluíam das minhas mãos para o papel de alguma forma.

Com o tempo "parada" fui me sentindo menos capaz. Como quem esquece as palavras da letra de uma música por passar muito tempo sem a cantar. Me sinto sem repertório pra colocar as coisas no papel mesmo tendo tanto a dizer com meus traços.

O irônico é que, quanto mais se exercita, mais se adquire recursos. E, ao não exercitar, eu vou só minando mais minha confiança no processo e na minha capacidade.

Existir pode ser bem confuso.



sexta-feira, 3 de maio de 2024

"Blossom" - Kerli

 



Um coração congelado bate sob a neve
Eu estive esperando, pronta para crescer
Tremor e tempestades turbulentas
Sonhando com algum outro lugar quente

Enquanto minhas raízes cavavam mais fundo
E minhas folhas se apertavam
Senti minha fé crescer
Eu não só aprendi a sobreviver

Eu aprendi a florescer
Eu aprendi a florescer, encontrando luz no cinza
Sabendo que vou ficar bem
Eu aprendi a florescer, encontrando luz no cinza
Através de uma vida sem chuva
Eu vou florescer

Vozes murchas fantasmagóricas pelo vento
Sussurrando que isso poderia ser o fim
Por que elas não me esquecem?
Elas não conseguem que ver estou sofrendo o suficiente?

Enquanto minhas raízes cavavam mais fundo
E minhas folhas se apertavam
Senti minha fé crescer
Eu não só aprendi a sobreviver

Eu aprendi a florescer
Eu aprendi a florescer, encontrando luz no cinza
Sabendo que vou ficar bem
Eu aprendi a florescer, encontrando luz no cinza
Através de uma vida sem chuva
Eu vou florescer
Eu aprendi a florescer
Eu aprendi a florescer, encontrando luz no cinza
Sabendo que vou ficar bem
Eu aprendi a florescer, encontrando luz no cinza
Através de uma vida sem chuva
Eu vou florescer

Eu vou florescer
Eu vou florescer
Eu vou florescer
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Tradução via letras.mus.br
Assistindo pelo Youtube é possível ativar a legenda em Inglês ou em Português diretamente no vídeo. 

Ouço Kerli há pelo menos 15 anos e o trabalho dela me tocou de muitas formas ao longo desse tempo. Hoje ouvi novamente essa música e ela me atravessou de uma maneira diferente de antes, por isso quis incluir ela aqui. 
 

Neurodivergência

Hoje, 01/03/2024, li uma entrevista do baixista Marco Hietala (ex-Nigtwish) falando sobre como impactou positivamente na vida dele receber seu diagnóstico de TDAH - mesmo isso tendo ocorrido na casa dos 50 anos.

Ele vinha de um quadro grave de depressão e ansiedade e, no processo de autoconhecimento e tratamento relacionado a esse quadro, seu psiquiatra falou sobre a possibilidade de ele ter TDAH. Ivestigaram e confirmaram que sim.

Uma coisa que me tocou na fala do Marco foi o fato de a hiperatividade dele ser interna, nos pensamentos que não desligam, no cérebro que pensa em infinitas coisas o dia e a noite inteiros. Que ele não tem um perfil de tanta hiperatividade física mas sim mental. 

Muitas vezes nos agarramos aos esteriótipos, aos sintomas e caracterísicas clássicos mais difundidos e pensamos que são a única maneira de apresentação deles. Mas nem é assim.

Ter a chance de conhecer melhor como a gente funciona nos permite buscar acomodações que facilitem nossa existência individual e em sociedade.

Eu estou em processos de investigação desde julho de 2023 sobre a minha própria história, meu próprio funcionamento. Ainda sem um diagnóstico oficial mas já conseguindo perceber, entender, processar e acomodar melhor meu próprio funcionamento pra não precisar ser tão sofrido existir. A frase anterior pode parecer dramática demais mas, a verdade é que o mundo não está posto em conformidade com as pessoas neurodivergentes. Ele foi feito e montado para pessoas que funcionam de maneira diferente da gente e por mais que a gente se esforce pra mascarar bem, a conta chega depois em depressão, ansiedade, burnout e etc.  

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Li duas matérias com o Marco em que ele fala sobre a influência da neurodiversidade na sua história de vida, via whiplash.net:

Marko Hietala diz que Nightwish "não compreendeu bem" real tamanho de sua depressão

Marko Hietala vê ironia em single com Tarja, mas diz não querer ferrar com o Nightwish

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P.s: Eu escrevi esse texto em 1º de março, fui interrompida e acabei esquecendo de voltar para incluir os links das matérias... Voltei agora pra outra postagem e cá estou eu recuperando essa aqui também ^.^'


SILÊNCIO

Ontem parei pra pensar sobre meu silêncio. Um silêncio aprendido e muito executado. De alguém que tem muito a dizer e escolhe guardar tudo pra si. De como eu aprendi que "sabichões" que "de tudo entendem" e que cortam/corrigem os outros com frequência (muitas vezes por falta de noção e sem essa real intenção) ficam sem amigos pra conversar. 

De como é solitário escolher o silêncio com tanta frequência. Como é dolorido não ter coragem de interagir, de compartilhar. Me acostumei tanto a me calar - pq sentir que as opiniões dos outros "são mais importantes/relevantes que as minhas", pq precisei do silêncio pra direcionar toda minha capacidade a entender o que os outros estão falando E querendo dizer. Pq, por mais que seja um assunto que eu tenho conhecimento e interesse a respeito, sempre acho que há outros que sabem mais e por isso não tem necessidade de eu "me meter" nos assuntos. 

Mas aprender é minha maior notivação na vida. Amo aprender, conhecer, descobrir novos campos de interesse e me aprofundar neles. E tudo isso fica rodando dentro de mim, da minha cabeça que nunca pára. Então, se eu não vou conversar com ninguém sobre as coisas, eu escrevo, desenho ou canto. Levo pra terapia semanal. Precisam ter vazão de alguma maneira pq, se eu tento conter tudo dentro de mim, adoeço. 

Acabo de perceber que eu sinto não ter ninguém com quem eu posso conversar livremente sobre tudo que se passa na minha cabeça. Eu sempre me preocupo que se eu me abrir completamente eu vou sufocar as pessoas com meu excesso de informações, com meus interesses peculiares. Que elas não tem interesse pelas mesmas coisas e vão ficar cansadas, entediadas e querer ir embora. 

Que bom que as palavras escritas existem. 

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Ficar calada me "protege" das confusões da dificuldade de interação social, dos potenciais olhares de reprovação pq não entendi a piada ou discordo do que está sendo dito, mas tb me impede de aprofundar relações. De me conectar com as pessoas. Me previne de fazer verdadeiras amizades que vão existir para além do ambiente de trabalho/estudo/religião. 

Sempre me doí por isso, por conhecer e ser conhecida por todo mundo, falar com todo mundo, mas quando saía dos ambientes estava sempre sozinha. Sempre existiu a barreira da interação estritamente localizada. As outras pessoas visitavam as casas umas das outras, iam para cinemas, parques, festas, etc. juntas e eu nunca conseguia estender minhas relações pra outros ambientes.

Hoje sinto que o silêncio faz parte das minhas máscaras. Daquelas que desenvolvi pra me sentir socialmente aceitável nos ambientes que eu precisava navegar. Pra me sentir minimamente segura e pertencente. Mesmo que, na maior parte do tempo, a sensação de ser uma impostora seja a coisa mais presente de todas. E até pra isso o silêncio serve: pra "me proteger" de demonstrar a fraude que sinto ser - mesmo que eu tenha chegado aonde cheguei de forma justa.

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