Faziam alguns anos que eu não conseguia parar pra fazer encadernaação artesanal e eu sentia muita falta.
Estou em um momento um pouco diferente agora, com um acompanhamento que tem me ajudado a agir mais e não só seguir morando e especulando a vida, o universo e a minha existência dentro de dentro da minha cabeça.
E um dos reflexos desse novo movimento é retomar coisas que eu amo e fluir através delas sem uma culpa difícil de processar que eu carregava há anos. Meio que ainda carrego, mas estou me soltando dela cada dia um pouco mais.
Eu tinha vários projetos de cadernos em mente e de junho pra cá comecei aos poucos a realizar. Preparei as capas em junho, separei as folhas no início de julho e, do fim dele e o início de agosto, andei com os processos de perfuração, costura e finalização.
Fico pensando como o contexto de vida muda. Anos atrás eu seria tomada pelos pensamentos de um projeto e simplesmente cairia de cabeça nele. Esquecendo inclusive de comer/beber/descansar e parando pra dormir só depois de ter entrado madrugada a dentro tomada pelo hiperfoco.
Já cheguei a finalizar um caderno em questão de horas num mesmo dia. Esse era um projeto mais simples de executar, então eu só aguardava razoavelmente a cola estabilizar e partia pra próxima parte do processo...
Hoje, com crianças, trabalhando fora, tendo que controlar horários de sono pra fazer elas dormirem e acordar cedo pra arrumá-las pra escola, o rolê é bem diferente.
Prós e contras, né? A frustração de ser constantemente interrompida e ter que limitar o tempo de contato com a produção são coisas dolorosas. Mas o coração fica muito quentinho vendo a empolgação delas em escolher a estampa da capa, as combinações de cores dos papéis do miolo, e as perguntas (todo santo dia) de "Meu caderno já tá pronto, mamãe? Eu tô tão ansiosa!".
Hoje as duas já estão alegremente usando seus cadernos. Desenham, fazem colagens e a Saphira até já escreve algumas coisas no dela! Ela está indo muito bem no processo de alfabetização, é uma alegria ver.
E eu, que estava me sentindo orfã porque meu último caderno tinha acabado uns dois meses atrás, voltei a ter um meio pra desaguar. Estreei ele com uma poesia, seguida de um desenho e uma escrita muito muito catártica.
Eu só sentia que ele precisava ter na capa o papel de borboletas que eu guardava há muitos anos. Era ele, sabe? Tenho disso. Eu tô o tempo todo pensando e mesmo assim tem muita coisa que eu começo a sentir muito antes de conseguir entender o porquê, só sei que é a coisa certa.
Tem sido um reencontro feliz com um ofício que eu amo e do qual eu estava distante a tempo demais.
Por hoje compartilho aqui dois vídeos que fiz no dia em que estava costurando meu novo caderno.
Eu costumava fazer cadernos mais estreitos para ter menos peso para carregar comigo para todos os lados. Mas meu último foi feito por uma pessoa querida que produziu algo espesso, potente, que me acompanhou por muito tempo e foi uma experiência que eu gostei muito.
Fora que eu não tinha certeza de quando conseguiria fazer cadernos de novo, então achei mais seguro fazer um que pudesse durar bastante.
Mas me parece que agora eu tô ficando um pouco melhor nisso de incluir minhas paixões na minha rotina. De abrir espaço para mim na minha própria vida. Então creio que vou conseguir continuar produzindo cadernos com uma regularidade mais feliz para mim. Não a que o hiperfoco gosta, mas uma possível mesmo assim.
Apesar de não estar escutando tanto quanto antes, eu gosto muito de twenty one pilots e Car Radio é minha música favorita.
E ela é a favorita porque eu nunca achei algo que representasse tão bem o caos que é estar dentro da minha cabeça e o quanto música me ajuda a sobreviver a mim mesma.
Lendo o que escrevi agora parece especialmente dramático, mas é bem sincero, e eu vim registrar o pensamento para mim mesma no futuro.
Eu já falei um bocado de vezes aqui sobre o fato de que eu amo música, escuto pra caramba e elas são muito importantes pra mim. Mas uma coisa que não lembro se já comentei é que tenho sempre alguma ou algumas que se tornam o vício do momento e escuto çiteralmente em looping.
Fuquei com vontade de registrar as atuais e as anteriores, então aí vai!
ATUAIS
TABLO X RM - Stop The Rain (Official MV) no YouTube
Esta eu já chorei, já sorri, já cantei junto e as meninas gostam de ouvir tanto quanto eu, então essa é um vício compartilhado. A letra dessa música me toca de muitas maneiras, tanto a parte do Tabloo quanto a do RM. É falar de coisas que doem profundamente mas com a delicadeza e o acolhimento de um abraço sincero. Ela é minha atual música de conforto em momentos de crise emocional/sensorial.
Within Temptation and @JERRY_HEIL -
Sing Like A Siren (Official Music Video) no YouTube
Já tinha um tempo que eu não ouvia Within Temptation e de repente eu reencontro a banda com um tesouro maravilhoso como este. Lindo não é suficiente. Acho que mágico define melhor.
É o álbum HOUSE OF TRICKY : SPUR inteiro, na verdade, mas coloquei Breath pra representar. Em SPUR o talento e o estilo deles brilhou em outro patamar. E o fato de ser o retorno do Jung Hoon após a lesão grave no joelho fez tudo ainda mais especial.
Não sei nem por onde eu começo a falar do Commedia D'arte ATO I... A Bea é foda demais e esse álbum é espetacular sob muitos aspectos. Mas acho que o que mais me toca é ela estar tão livre e feroz em falar sobre o que importa de fato pra ela. É um desenvolvimento lindo de se ver.
ANTERIORES
ATEEZ "DEEP DIVE" - GOLDEN HOUR : Part.2 no YouTube
Este é um daqueles casos em que eu ouvi o ábum todo em looping todos os dias, mas escolhi só uma para representar. Fquei muito empolgada em saber que em junho vai ser lançado o GOLDEN HOUR : Part.3. Considerei presente de aniversário \o/ rsrs
ATEEZ é meu grupo favorito faz algum tempo e esse álbum bateu como uma companhia que viveu o tempo junto comigo, adultecendo.
O álbum D-Day inteiro é muito especial, mas AMYGDALAe Snoozesão particularmente importantes pra mim e foram ouvidas em looping, sentidas, choradas, cantadas e me arrepiam até hoje.
지민 (Jimin) 'Set Me Free Pt.2' Official MV no YouTube
Acho que já deu pra perceber que eu gosto de BTS e que músicas que falam sobre as jornadas pessoais em direção à autonomia e ao reconhecimento da própria força me tocam, né? Pois então. No álbum Face o Jimin entregou uma potência e uma versatilidade vocais que me suspreenderam e apaixonaram muito. Eu ouvia inteiro em looping, mas essa e Alone são as que me atravessam mais.
E pra fechar a participação de integrantes do BTS no meu relato de vícios musicais, essa foi provavelmente a primeira de trabalho solo deles que me deixou obsecada. Por um bom tempo foi minha música de conforto para momentos de crise. A voz do JK me reconforta sensorialmente de um jeito que é difícil de explicar e toda a sonoridade dessa música é deliciosamente reconfortante.
Eu sou perdidamente apaixonada pela voz, a interpretação, a entrega da Eivør e esse álbum foi um presente, mais uma preciosidade que ela trouxe pro mundo. Não tem como ouvir ela cantar e não sentir reverberar até nos ossos. Sou apaixonada.
Iniko é uma força da natureza e eu considero um privilégio ter tido a oportunidade de conhecer uma voz e uma presença como essa, mesmo que só de longe. Amo várias músicas mas decidi registrar aqui o vídeo com o qual eu u conheci. Armor é outra que eu ouvi em looping e que me atravessa com muita força.
Não tem condição de eu ver uma apresentação incrível dessa e não deixar registrado em lugar nenhum!!!
Eu sou apaixonada por versões acústicas por ser possível perceber as sutilezas da interpretação, sentir mais de perto a emoção da voz, e este album Paisagem (Acústico; Ao Vivo) tá lindo demais.
Minhas filhas, ainda mais a mais nova (3 anos e meio), tem um super interesse por livros e eu tenho pensado na possibilidade de apoiar pessoalmente elas no processo de alfabetização.
Aí eu me lembrei que terminei o ano em que deveria ter sido alfabetizada sem realmente saber ler. Foi a minha mãe quem me ensinou, nas férias antes do próximo ano escolar, imagino que pra que eu estivesse mais preparada e não sofresse nada na escola no ano seguinte.
Me lembro de estar sentada com meu caderno junto à mesa da copa e ir pegando letrinhas de um pote de vidro que ela tinha deixado pronto pra mim. Ela fazendo coisas na cozinha - talvez comida, talvez lavando louça - enquanto me dava apoio e orientações.
Faz tempo que eu lembro disso, mas, hoje, pensar nisso me chocou. Me peguei reconhecendo de novo o quanto ela era foda e aumentando ainda mais minha admiração.
Plenos anos 90, mãe solo de 3 garotas em idades muito diferentes, trabalhando fora, super ativa na organização budista da qual participamos (BSGI), numa época sem internet pra dar ideias e facilitar a aquisição de conhecimentos, ela tava lá me ensinando a ler em dois meses de uma forma que a escola não conseguiu ao longo de um ano.
O amor pela leitura veio da minha avó materna e preencheu o coração e a vida da minha mãe. Mesmo depois de perder a visão total de um olho e parcial do outro, ela insistia em ler, aprender e se transportar a outras vivências por meio das palavras.
Várias vezes ao longo das nossas vidas ela me falou que desejava que nós aprendêssemos a amar aos livros e aos estudos como ela tinha aprendido com minha avó. E sempre nos deixou cercada deles. Nós três aprendemos e amamos, realmente.
Usei minha mini impressora à calor para imprimir essas fotinhas e elas estão coladas na lateral da minha mesa de trabalho.
Eu às vezes me sinto muito sozinha no mundo e ter essas pessoas que eu amo junto comigo, mesmo que em impressões de qualidade meio questionável, aquece meu coração.
Aplaca a saudade um pouquinho e me sinto com mais força e coragem pra seguir em frente vida à fora.
Agora é respirar fundo, arregaçar as mangas e buscar informações. O mundo da leitura é incrível demais pras minhas crias não terem acesso a ele. 💖