domingo, 4 de setembro de 2022

Oceano


Aprendi a nomear o luto de oceano.


É vasto,

não tem prazo para acabar,

não é linear,

e funciona em ondas.


Chega arrebatador,

nos dá inúmeros caldos,

pensamos que seremos engolides por tamanha potência.


Nossas lágrimas se juntam 

e o aumentam.

_


O tempo vai passando e a onda se afasta um pouco.

Conseguimos respirar um instante mais.

_


As vezes chegam momentos 

em que quase esquecemos

que ele nos tomou 

e revirou tão profundamente.


Pra, em seguida,

Sermos arrebatades por uma nova onda.

Sem aviso,

cheia de uma nova versão da dor,

da saudade,

da consciência... de ausência.

_


Não é linear, eu disse.

Me toma, de novo,

de um novo jeito.

_


Vem, 

me inunda, 

me leva pra longe de onde

pensei estar chegando.


A água arrasta a areia sob os pés,

o breve equilíbrio se vai,

e eu titubeio.

Os passos incertos viram braçadas,

o ambiente se azula a minha volta.


Eu choro,

me sinto exausta.

NÃO QUERO MAIS SENTIR.

Mas não é possível fugir 

de dentro de si.

_


Passei meses sentindo

que mal conseguia manter 

a cabeça fora d'água 

pra sobreviver.


Hoje, 

precisamente hoje,

sinto que estou caminhando na praia

após o mais recente caldo.


Vou aproveitar esse instante calmo,

enxergar as ondas ao longe,

consciente que me levarão

novamente.

_


Não sei quando,

só sei que vão.


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