Aprendi a nomear o luto de oceano.
É vasto,
não tem prazo para acabar,
não é linear,
e funciona em ondas.
Chega arrebatador,
nos dá inúmeros caldos,
pensamos que seremos engolides por tamanha potência.
Nossas lágrimas se juntam
e o aumentam.
_
O tempo vai passando e a onda se afasta um pouco.
Conseguimos respirar um instante mais.
_
As vezes chegam momentos
em que quase esquecemos
que ele nos tomou
e revirou tão profundamente.
Pra, em seguida,
Sermos arrebatades por uma nova onda.
Sem aviso,
cheia de uma nova versão da dor,
da saudade,
da consciência... de ausência.
_
Não é linear, eu disse.
Me toma, de novo,
de um novo jeito.
_
Vem,
me inunda,
me leva pra longe de onde
pensei estar chegando.
A água arrasta a areia sob os pés,
o breve equilíbrio se vai,
e eu titubeio.
Os passos incertos viram braçadas,
o ambiente se azula a minha volta.
Eu choro,
me sinto exausta.
NÃO QUERO MAIS SENTIR.
Mas não é possível fugir
de dentro de si.
_
Passei meses sentindo
que mal conseguia manter
a cabeça fora d'água
pra sobreviver.
Hoje,
precisamente hoje,
sinto que estou caminhando na praia
após o mais recente caldo.
Vou aproveitar esse instante calmo,
enxergar as ondas ao longe,
consciente que me levarão
novamente.
_
Não sei quando,
só sei que vão.
.
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