quarta-feira, 8 de junho de 2011

14 de maio de 2011

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Continentes Suspensos



Em um momento inimaginável, lá estou eu. Sob a trilha sonora do bebê que tanto chora pela pressão sofrida por seus pequenos ouvidos, e do casal que se acaricia nos assentos logo atrás.

Toda a luz e o empuxo, que não me incomodam por imaginar e desejar o que me espera, enchem o ambiente e me tocam. Assim como o contente calor que os acompanha.



Subindo e subindo.

E subindo ainda um pouco mais.



Tornando todos os grandes objetos peças de um tabuleiro de RPG, me dou conta de quão pequena sou e do quanto ainda posso fazer e ver, porque nada sei. E ser insuficiente de repente não me dói, soa como oportunidade.

Soa como caminho alegre a trilhar e futuras memórias desejáveis.

E eu me sinto livre deixando meu universo rotineiro para trás. E desejo voltar não quando preciso, mas somente quando a vontade me tomar.

Enquanto isso os caminhos se formam. O acinzentado do céu que não me reprime, as texturas de nuvens velhas conhecidas. Quem primeiro disse que se parecem com algodão? É estranho mas, em geral, realmente o parecem.  

O incrível é que sempre pode existir o estranhamento, a novidade. O qual foi o momento exato em que me deparei com os continentes suspensos. Que visão incrível e inquestionável!

Era como ter ao alcance dos dedos o objeto das descrições gloriosas de Dungeons & Dragons. Mas este era ainda especial: tinha a aparência inóspita e encantadora de um reino de gelo, delicadamente melancólico ainda que imponente.

E ele se entendia céu a fora, ramificando-se, expandindo seus domínios de torres recortadas irregularmente em atos quase geométricos.

E tudo o que eu queria era conhecer o povo dessas terras. Um povo tão etéreo e efêmero quando os próprios continentes seriam assim que eu findasse minha viagem. Tão mutável quanto a memória se faz em minha mente sempre que a acesso.

E o bebê aos poucos se acalma. E o casal, em suas diversas texturas e movimentos, aos poucos relaxa em seus mútuos braços cheios de carinho.

E um rio se apresenta sob meus olhos como nunca vira: um vislumbre das veias da terra. Veias essas com sua vida pulsante em movimento, por mais clichê que isso possa soar. Porque cada experiência é única, e nenhuma das mil vezes que ouvi tal expressão me tirou o encantamento de presenciar com meus próprios olhos o macro de mim. Eu que tenho tão estreitas veias nas quais circulam os mesmo laços de vida, de energia, os quais podia enxergar com meus estreitos olhos carregados de emoção.

E o que mais isso seria senão a maravilha de estar viva? Para mim é isso.

Afinal sou feita de minúsculas coisas. E mesmo desejando jogá-las fora em momentos de desespero patológico, em geral sei que delas me alimento, me reforço, me integro e socializo. E que mesmo com todas as cobranças para as quais eu nunca basto, eu posso ser completa para meus próprios sonhos.





Brasília - São Paulo, maio de 2011.

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